‘Ser empreendedor é uma merda, mas nunca vou deixar de ser’, diz criador do Easy Taxi
Tallis Gomes, 29, foi um dos criadores do Easy Taxi e comandou a expansão da empresa, inventada em um evento de empreendedorismo de final de semana em 2011, até torná-la uma multinacional presente em 35 países.
Mas não espere ouvir dele histórias sobre o glamour de ser um jovem empresário em ascensão.
“Trabalhei como um louco. Terminei meu noivado, engordei 18 quilos, minha saúde foi para o inferno, porque eu precisava fazer o negócio acontecer”, disse ele ao Plano de Negócios.
Em 2012, quando sua empresa recebeu investimentos do fundo alemão Rocket Internet, conhecido por sua agressividade nos negócios, a companhia passou a crescer vertiginosamente, abrindo mais de um escritório em um novo país por mês.
“Eu me sentia na merda. Ficava longe da família, dos amigos. Passei a ter pavor de hotel, que é um negócio muito solitário. Me traz muita lembrança ruim dessa época.”
Na entrevista ao blog, ele contou como começou a fazer negócios já na adolescência, na cidade de Carangola (MG) e como era levar a Easy Taxi a um país novo em uma corrida frenética para conquistar o mundo.
Sua trajetória empreendedora começou logo na adolescência, quando ele comprava e revendia celulares pela internet em sua cidade natal.
Já como estagiário, Gomes mostrou sua ambição (e falta de apreço por hierarquias), ao criar uma conta em nome de sua empresa e fazer um sorteio no Twitter, sem autorização dos chefes.
Aficionado por análise de dados, ele conta que uma de suas maiores influências foi o técnico de vôlei Bernardinho, a quem conheceu quando trabalhou na Unilever: “isso foi uma coisa muito importante para mim. Ele é um economista, totalmente ligado a dados e estatísticas. Ele faz econometria do esporte, anota a forma como cada um saca, faz análises de tudo.”
Segundo ele, enjoado da rotina da empresa que havia fundado, que se tornava burocrática e não oferecia mais os mesmos desafios, ele decidiu deixar o Easy Taxi em 2014 e decidiu usar a experiência em negócios que conectam serviços e clientes para atuar em novos mercados.
Daí surgiu a Singu, seu projeto atual, conta. A empresa conecta clientes e profissionais do setor de beleza.
Gomes investiu R$ 1 milhão na companhia, que foi criada em 2015. A Singu conta com cerca de 300 profissionais cadastrados. A companhia não divulga valores de faturamento.
No fim das contas, mesmo com todas as privações envolvidas, Gomes diz não ver para si outra opção a não ser continuar empreendendo: “Empreender possibilita que a gente crie valor para a sociedade e seja recompensado por isso. É o capitalismo como ele deveria ser. Não importa quanto dinheiro vou ganhar, eu sempre vou fazer isso.”
Ser empresário desde cedo impediu que Gomes terminasse uma faculdade. Porém ele resiste ao clichê de dizer que estudar é perda de tempo para empreendedores. Em 2015, ele voltou à sala de aula e fez um curso no Insper para melhorar seu conhecimento de finanças.
Leia abaixo a entrevista que ele concedeu ao blog.
Plano de Negócios – Você ficou conhecido com o sucesso do Easy Taxi, mas já havia tentado empreender antes. Como começou sua trajetória?
Tallis Gomes – Eu comecei a empreender aos 14 anos. Eu tinha uma banda de rock e precisava comprar uma bateria para ela. Achei no empreendedorismo uma forma para conseguir isso e uma desculpa para fazer alguma coisa, para sair da inércia.
Vim de uma família muito pobre. Meu pai era policial militar e minha mãe era cabeleireira. A única chance que eu tinha de sair da cidade de Carangola, um vilarejo no interior de Minas, seria eu mudar minha vida de forma radical.
Eu tirava “print screen” (fotos da tela) de páginas do MercadoLivre, colocava preços 25% maiores, montava um catálogo e levava ao comércio da cidade, ao fórum, a lugares onde havia a possibilidade de eu vender alguma coisa.
Se alguém comprasse, depositava o dinheiro na conta do meu avõ, eu pegava esse dinheiro e comprava o celular para entregar para o cliente.
Deu para comprar a bateria?
Mais do que isso. Deu para juntar dinheiro para eu mudar da cidade. Eu vendi bastante celular. Não tinha celular lá. E toda cidadezinha tem gente com dinheiro, na época eles não tinham muito acesso a isso.
Juntei uma grana boa, não lembro quanto era, mas era algo absurdo para mim. Consegui morar sozinho com ela por três anos. Mudei primeiro para Juiz de Fora (MG) e depois para o Rio de Janeiro.
Quando cheguei ao Rio, comecei a fazer faculdade na ESPM, morando em república. Tinha que me bancar. No terceiro período da faculdade, comecei a estagiar no Grupo Severiano Ribeiro, dono da rede de cinemas Kinoplex. Lá, tive a oportunidade de começar a introduzir o marketing digital no grupo. Reparei que, se não fizesse de modo diferente, não conseguiria o crescimento que meu gerente de marketing queria.
Eu sabia que a internet era um universo paralelo gigantesco e as pessoas lá queriam consumir, mas o mercado brasileiro não estava pronto para ela.
Decidi que queria fazer um teste. Aproveitar o lançamento de um filme da Hannah Montana para criar uma conta no Twitter e divulgar a estreia para o público infantil.
Propus que fizéssemos o Twitter e eles disseram que não, de jeito nenhum, as pessoas iriam criticar a empresa nas redes sociais. Criei uma conta no Twitter escondido e fiz uma promoção ali. Disse que iria sortear um ano de cinema grátis para quem compartilhasse a conta caso ela chegasse a 5.000 seguidores. O brasileiro adora promoção, em duas semanas chegamos aos cinco mil seguidores.
Fiquei em uma situação complicada, havia feito algo que a empresa não autorizava e agora precisava contar. Praticamente fui demitido na hora. Os caras só não me demitiram porque chorei e disse, “já está pronto, vamos testar se funciona”. As salas do cinema ficaram lotadas.
Você acha que fez a coisa certa?
Acho que sim. E é assim que eu faço o gerenciamento de pessoas hoje. Empresa é um conjunto de sonho grande, gente boa e incentivo para que as pessoas cheguem longe. Eu sempre fui capacitado. Tinha um grande incentivo intelectual. E meu sonho grande era aprender a mexer com aquele negócio de marketing digital.
Quando você tem um profissional com o perfil que eu tinha, tem mais é que deixar ele trabalhar.
Hoje, eu combino com meus profissionais macrometas, não micrometas. Pense no seguinte. Posso dizer para você: “Vou ser sócio do seu blog. Quero que me traga 15 mil visitas por semana”. Como fazer isso é problema seu, pode fazer quantos posts quiser, colocar mulher pelada, tudo é problema seu.
Isso é muito diferente de dizer que você precisa escrever dois posts por semana, com 500 linhas, que contenham o conteúdo tal. Para isso, você não precisa de gente boa, pode deixar um macaco.
É isso que mantém o cara na empresa, é isso que a geração Y e os mais novos querem, eles querem deixar a marca deles. Fala-se muito que todos querem sair da empresa e empreender. Mas ser empreendedor é uma merda. Você fica sem dinheiro, perde sua vida social. O resultado é bom, mas é 90% de merda e 10% de coisas gostosas. As pessoas saem das grandes empresas por não conseguirem deixar sua marca lá e terem uma chance de fazer isso no empreendedorismo.
O que fez depois dessa experiência?
Saí e montei a primeira agência de gameficação em mídias sociais no Brasil, em 2007. Leia agência eu e mais dois “brothers”.
Conseguimos duas contas trabalhando com preço de custo. E eu era muito novo, tinha 20 anos, era uma dificuldade chegar para um diretor de marketing e dizer que eu poderia fazer o trabalho dele melhor do que ele fazia.
O resumo é que, depois de nove meses, a empresa faliu. Fiquei na merda. Fui morar de favor na casa dos outros, não tinha dinheiro para pagar minhas contas, larguei a faculdade.
voltei para o mercado. Por sorte, um cara que conhecia me recomendou para a Unilever. Fui trabalhar com o time de vôlei deles, com o Bernardinho.
Isso foi uma coisa muito importante para mim. Ele é um economista, totalmente ligado a dados e estatísticas. Ele faz econometria do esporte, anota a forma como cada um saca, faz análises de tudo.
Depois, tive a oportunidade de ir para a Ortobom ganhar mais dinheiro. Lá, comecei a criar o primeiro e-commerce de colchão do país.
Foi muito difícil vender esse projeto. Eu não tinha recursos e eles não acreditavam que poderiam vender colchão assim. As pessoas deitam no colchão na loja, experimentam antes de comprar, diziam. Mas eu acreditavam que ia ter gente que ia deitar no colchão, ia para casa pensando e ia ficar com preguiça de comprar. Se ele pudesse comprar pela internet, faria uma diferença danada para a companhia.
Eu tinha uma verba no departamento de marketing digital, com 22 para 23 anos. Eles falaram para eu fazer a loja com ela e, se não desse certo, iriam me demitir. Assumi o risco. Mas o vice-presidente, no final, me deu só metade da verba que eu teria.
Tinha menos dinheiro do que precisava, tinha de dar um jeito de montar o negócio gastando pouco. Por isso montei uma agência para contratação de profissionais na nuvem.
O que era isso?
Eu contatava pessoas na Índia, nos Estados Unidos, e comecei a montar uma lista por competências. Mandava os projetos que tinha para fazer para esses profissionais e eles mandavam orçamentos e competiam para ver quem ficava com o trabalho.
Comecei a ganhar um dinheiro com esse negócio. Tirava limpo para mim uns R$ 15 mil por mês, era muito dinheiro, não imaginava tirar isso na vida. A empresa começou a tomar o lugar do meu emprego e comecei a me preparar para sair.
Como foi desse projeto ao Easy Taxi?
Eu tinha uma inquietude, queria fazer algo diferente. OAlgo que me incomodava muito era o trânsito. E minha ideia não tinha nada a ver com táxis. Quando fui para o meu primeiro Startup Weekend (evento no qual grupos desenvolvem ideia para start-ups em um final de semana), queria fazer um aplicativo para ônibus.
Cheguei no campeonato e o mentor falou comigo que a Google estava fazendo isso. Meu time se desfez completamente. Precisava de uma nova ideia.
Fui para casa naquela sexta-feira e, nesse momento, surgiu o Easy Taxi. Liguei para uma cooperativa para tentar conseguir um táxi, mas não achava de forma alguma. E veio um estalo. Por que não adaptar a ideia do ônibus para o táxi?
Você já tinha ouvido falar de Uber?
Ninguém nunca tinha ouvido falar disso. Está8vamos falando de junho de 2011. O Uber começou para valer nos Estados Unidos no final de 2010. Nem se eu tivesse ido para os EUA eu conheceria o Uber.
Quando criei o Easy Taxi, procurei aplicativos de táxi em várias línguas e não vinha nada. Mais para frente descobri que existia um cara em Israel e outro na Alemanha fazendo isso naquela época.
Ninguém sabia de ninguén, não tinha muita referência. Tanto que, quando apresentei a ideia, não ganhei, fiquei em quarto lugar. Um dos investidores que nos avaliaram disse que, se fosse bom, alguém já teria feito nos EUA.
Nesse momento largou sua outra empresa?
Vendi a minha parte para um amigo meu e fui tocar a Easy Taxi. Larguei a Ortobom um pouco depois, quando a gente ganhou o concurso IBM Smart Camp.
Entrei no Easy Taxi de cabeça e crescemos muito rápido a partir dali. Em outubro de 2012 recebemos o primeiro investimento, da Rocket Internet (fundo de capital de risco Alemão), que colocou R$ 10 milhões.
Em geral, a Rocket escolhe alguém para gerenciar negócios desenvolvidos por ela. Com vocês foi diferente?
Fomos o único caso de investimento deles. Normalmente, eles copiam modelos de negócios de outros países e colocam um executivo para tocar.
As pessoas criticam muito a Rocket por copiar negócios. Dizem que isso é imoral, agressivo. Mas, quando fui ler sobre ela, fui analisar friamente os fatos. Ela é criticada por copiar algo que está nascendo no “Vale do Silício” (EUA) e levar a ideia para o mundo inteiro antes do cara. Então isso é fantástico. Ter ideia é fácil, difícil é fazer a coisa acontecer.
Mandei um e-mail para eles falando exatamente isso. O cara de lá na alemanha curtiu e mandaram o CEO da América Latina para conversar comigo.
Ele falou que iria me encontrar no Rio de Janeiro e queria conhecer o sistema. O problema era que nosso aplicativo tinha muito pouco recurso. Ele era feito por eu mais três amigos, estava cheio de probleminhas.
Lembro que a gente combinou com um taxista que ele iria ficar ao lado do aeroporto e que ele deveria atender rapidamente, quando o investidor chamasse. Deu certo, o investidor ficou impressionado, voltou com uma proposta de compra da empresa.
Como foi a negociação?
Falamos que não queríamos vender. Foi muito difícil fazer isso. Eu estava comendo miojo, sem salário, para falir em, no máximo, três meses, correndo o risco de sair com dívidas.
Poderíamos pegar o dinheiro e ir fazer outra coisa. Eram milhões, mas nem era tanto dinheiro assim…
Para uma empresa que mal existia, milhões não estava muito bom?
O pessoal sempre me chamou de doido porque eu sonho muito alto. Me chamavam de maluco também porque eu dizia para os meus amigos que a Easy Taxi seria uma multinacional. Falavam para eu ter pé no chão.
Eu sabia que queria ser internacional e grande desde o começo. O nome Easy Taxi veio por causa disso. Easy é uma palavra fácil e táxi é táxi em qualquer lugar.
Fechamos um investimento em que ele ficou com a maior parte da companhia.
O que mudou a partir daí?
Disseram que se levássemos o aplicativo para cinco países estava bom. Em três meses, tínhamos cinco países. Em um ano estávamos em 18.
Saí como um louco. Terminei meu noivado, engordei 18 quilos, hoje estou com 90, minha saúde foi para o inferno, porque eu precisava fazer o negócio acontecer. Eu era só Easy Taxi dia e noite e via meus amigos saindo, colocando fotos deles se divertindo na balada.
Quem cobrava mais, você ou os investidores?
Os dois. Eu nunca estou satisfeito com nada que faço. E a cobrança do lado de lá era muito grande. A Rocket é um moedor de carne. Geralmente o tempo de casa do empreendedor ali é de um ano. O pessoal não aguenta mais do que isso.
Eu tinha 24 anos quando comecei. Com 25 anos era CEO de uma empresa que estava em 18 países, liderando gente mais velha e mais capacitada do que eu, em 17 culturas diferentes da minha. Foi um desafio grande mudar do cara da start-up para um CEO internacional.
Como era seu dia?
Eu contratei muita gente. Fomos de 4 funcionários para 150 em um ano, eu ou os outros fundadores entrevistando pessoalmente todos eles. Todos os executivos da empresa passaram por mim, sem exceção.
Gente de todo mundo?
Colocava uma mochilinha nas costas e ia para outros países, Não parava no Brasil, Fiquei na Coreia do Sul, Colômbia, México.
Como achava quem contratar em cada país?
Usava o LinkedIn. Contratava ex-consultor e ex-banqueiro. Entrava lá e começava a falar com eles, perguntando se eles queriam ser presidentes. Os caras topavam.
Falava com 100, entrevistava 10 pessoalmente quando chegava no país e, no mesmo dia, contratava um.
Abria o país, começava a operação da empresa lá e já ia para o próximo. Pulava de país em país.
Você se sentia realizado?
Eu me sentia na merda. Ficava longe da família, dos amigos. Passei a ter pavor de hotel, que é um negócio muito solitário. Me traz muita lembrança ruim dessa época. Foi muito sofrido, não foi nada fácil. Se eu não tivesse muita resiliência tinha desistido.
Como foi sua saída da empresa, em 2014? Saiu ou foi mandado embora?
Eu me vi ali com 28 anos. Tinha construído o que era, na época, a maior empresa em número de países de O2O (conexão de serviços on-line e off-line) do mundo. Mas estava com uma participação acionária muito diluída na empresa, estava perto de 10%. Não fazia mais sentido eu ficar preso ali, poderia encontrar oportunidades. Estava na hora de fazer algo diferente.
Em uma viagem à Coreia do Sul, vi um monte de coisa que eu poderia fazer. Comecei a pensar nas possibilidades que o O2O poderia trazer. A única coisa que existia no segmento na época era táxi e comida, mas havia muita coisa que dava para fazer.
E o Easy Taxi estava em um momento chato. Estava muito grande, passei a ser chefe, não líder. Passava 80% do meu tempo com burocracia, falando com conselho, reportando para outros. Acho que é por isso que não consigo trabalhar em empresa, não gosto de gastar tempo com bobagem, gosto de construir coisas. Não queria ficar na zona de conforto com menos de 30 anos. Queria fazer muita coisa ainda.
Combinei uma transição de seis meses para mim. Caso contrário, ia ficar na Easy Taxi mais uns cinco anos enquanto meu conhecimento poderia ser usado para outras coisas.
Há futuro para táxis por aplicativo?
Acho que sim. O mercado precisa mudar um pouco. Não dá para o modelo continuar como é. Mas a Easy Taxi ainda é muito maior do que o UBer na América Latina. Se tomar as decisões certas, pode funcionar.
Em seu LinkedIn, há a informação de que você fez um curso no Insper em 2015. Segue estudando?
Eu continuo. Fiz um curso de formação para CFOs (diretores financeiros). Precisava completar minha base de finanças, a parte numérica.
Não dá para você parar no tempo, estamos vendo mudanças exponenciais. Se eu parar, logo um monte de meninos estão melhores do que eu. E gosto de estudar.
Você, logo após a graduação, foi tratar com “tubarões” das finanças. Como era isso?
Nem cheguei a terminar a ESPM. Tive de sair para tocar minhas empresas. Não entendia nada desse mundo. Comecei a ler muito, a conversar com muita gente. Uma vez que você aprende a lógica das coisas, tudo fica mais fácil.
Não ter terminado a faculdade fez falta?
Acho que o ensino tradicional é muito importante. As pessoas têm mania de citar quem largou faculdade, Steve Jobs, Bill Gates. Eu nem comento muito isso. Eles são quantos em uma base de milhões que não se formam? Nós que largamos os estudos e atingimos grandes coisas somos competentes, mas somos também muito sortudos.
Por mais que tenha aprendido a me virar, que seja um autodidata, sinto falta, sim. Mas hoje meu papel é achar as pessoas que estão preparadas e trazê-las para trabalhar comigo.
Por que apostar no mercado de beleza?
Quando a gente criou o Easy Taxi em 2011 criamos o segmento de O2O. Aprendemos muito sobre o que está relacionado a isso, como gestão de comunidades, construção de tecnologia. Pensamos que podemos usar o conhecimento adquirido para outras áreas.
Levantei quais os maiores mercados que poderia escolher e vi que o de beleza seria o primeiro ou segundo maior, talvez perdendo para logística.
Fui entender quais as dores desse mercado. Ele é super informal, a mulher tem a manicure dela, mas às vezes tem dificuldade de achar um horário com ela e ainda precisa pagar em dinheiro.
Do lado do profissional, ele é estuprado pelos salões de beleza, tem de entregar 50% da sua receita para ele. Nós mudamos isso, entregamos 70% da receita para o profissional. Decidimos entrar nesse mercado cortando intermediários.
O maior desafio para a empresa se tornar grande é cultural?
O grande desafio é ensinar às pessoas o quanto é vantajoso é chamar nossas manicures e demais profissionais e provar que, por mais que você seja atendido por diferentes pessoas, a qualidade dos serviços vai ser mais ou menos igual. Fazemos treinamento de todos, checamos a qualidade do serviço.
Você deixou claro como ser empreendedor é difícil, por que continua?
Empreender pode não dar tanto dinheiro na jornada, mas dá dinheiro no momento da saída. Na minha vida, eu nunca imaginei que eu teria o patrimônio que eu tenho hoje com 29 anos.
Mas a jornada é muito dura e não tem o glamour que as pessoas acham que têm. Obviamente o drive (aquilo que motiva) nunca é dinheiro, o drive é o propósito, a certeza de estarmos criando algo.
Empreender possibilita que a gente crie valor para a sociedade e seja recompensado por isso. É o capitalismo como ele deveria ser.
No caso da Singu, por exemplo, poder gerar emprego, mudar a vida dessas pessoas através da tecnologia é algo que me dá muito prazer. Não importa quanto dinheiro eu vou ganhar, eu sempre vou fazer isso.