Deficit de atenção leva empresária a desenvolver método de aprendizado e negócio de educação
Estudar para prestar vestibular pela primeira vez aos 36 anos não foi tarefa fácil para Gladys Mariotto, 54, fundadora da empresa Já Entendi, que desenvolve cursos on-line para empresas.
Ler apostilas e tentar memorizar seu conteúdo não era o suficiente. O que era aprendido em um dia era esquecido no seguinte, conta.
Intuitivamente, Mariotto buscou formas de facilitar sua compreensão e memorização dos conteúdos. Começou a tirar cópias do que precisava ler e recortar e colar de diferentes maneiras para reorganizar suas ideias, colorir certas partes, destacar alguns trechos.
O método funcionou e levou ela longe. Primeiro veio a faculdade de belas-artes, depois a de Filosofia, pós-graduações em História da arte e sociologia, Mestrado em Filosofia e um doutorado, ainda em curso, em educação.
Ele também abriu as portas para que Mariotto escrevesse livros didáticos, principalmente sobre filosofia. O primeiro convite veio em 2006, quando um amigo que iria escrever uma obra teve de desistir e a indicou. “Comecei a escrever e passaram a dizer que meus livros eram fáceis de entender”, diz.
No meio dessa trajetória, aos 40 anos, Mariotto descobriu de onde vinha a dificuldade (que acabou a a ajudando a descobrir seu modo de aprender e ensinar). Ela foi diagnosticada com TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade).
Na prática, isso significa que, se o assunto de uma conversa, palestra ou livro não a está interessando, não adianta, sua atenção irá embora rapidamente, conta.
A hiperatividade também fez dela uma pessoa inquieta. atuou como professora, mas sentia que não se adaptava a rotina.
Veio então a ideia de empreender no mercado editorial em 2010. Ela passou a fazer cursos para aprender a administrar empresas.
Uma pessoa com quem ela pensava em fazer sociedade lhe deu uma dica: editoras já haviam muitas, mas aulas em vídeo era um segmento que poderia ir muito bem.
A Já Entendi começou suas atividades em 2012, fazendo conteúdos para estudantes que iriam fazer a prova do Enem.
Na companhia, Mariotto usa o que aprendeu enquanto descobria os melhores métodos para ela própria estudar.
Conta que, nas aulas produzidas pela empresa e gravadas em estúdio da companhia em Curitiba, combina técnicas como storytelling (uso de histórias para facilitar o aprendizado), mapas mentais, programação neurolinguística e aproximações didáticas.
MUDANÇA DE RUMO
Mariotto conta que, em seus primeiros anos, a plataforma recebia elogios, mas não clientes.
“Para vender bastante na internet, é preciso de muito dinheiro para investir em marketing”, avalia.
Percebendo que o mercado era competitivo, Mariotto decidiu então mudar o público da companhia. e ppassar a preparar material para empresas, tendo como objetivo oferecer conteúdo para trabalhadores da base da pirâmide, área em que ela acreditava poder contribuir melhor a partir de sua experiência pessoal.
“Minha dificuldade e a deles não são iguais, mas podemos dizer que o déficit de atenção e o de educação são paralelos, com desafios para o aprendizado”, diz.
Em 2014, quando foi feita a mudança de rumo, o faturamento da empresa deslanchou e cresceu 50 vezes, conta.
Naquele ano, a companhia também recebeu seu primeiro investimento, de R$ 300 mil e passou pela aceleradora de negócios norte-americana 500 Startups.
Atualmente a Já Entendi fornece conteúdo para 16 empresas, desenvolvendo cursos para funcionários dessas companhias. Entre as que já usaram o serviço estão Walmart, Natura e Bematech. Marioto diz que 1,5 milhão de pessoas já assistiram conteúdo produzido por sua empresa.
A empreendedora prevê que a companhia irá faturar R$ 3 milhões em 2016.
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