Deficit de atenção leva empresária a desenvolver método de aprendizado e negócio de educação

Filipe Oliveira
Gladys Mariotto, fundadora da Já Entendi
Gladys Mariotto, fundadora da Já Entendi (Divulgação)

Estudar para prestar vestibular pela primeira vez aos 36 anos não foi tarefa fácil para Gladys Mariotto, 54, fundadora da empresa Já Entendi, que desenvolve cursos on-line para empresas.

Ler apostilas e tentar memorizar seu conteúdo não era o suficiente. O que era aprendido em um dia era esquecido no seguinte, conta.

Intuitivamente, Mariotto buscou formas de facilitar sua compreensão e memorização dos conteúdos. Começou a tirar cópias do que precisava ler e recortar e colar de diferentes maneiras para reorganizar suas ideias, colorir certas partes, destacar alguns trechos.

O método funcionou e levou ela longe. Primeiro veio a faculdade de belas-artes, depois a de Filosofia, pós-graduações em História da arte e sociologia, Mestrado em Filosofia e um doutorado, ainda em curso, em educação.

Ele também abriu as portas para que Mariotto escrevesse livros didáticos, principalmente sobre filosofia. O primeiro convite veio em 2006, quando um amigo que iria escrever uma obra teve de desistir e a indicou. “Comecei a escrever e passaram a dizer que meus livros eram fáceis de entender”, diz.

No meio dessa trajetória, aos 40 anos, Mariotto descobriu de onde vinha a dificuldade (que acabou a a ajudando a descobrir seu modo de aprender e ensinar). Ela foi diagnosticada com TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade).

Na prática, isso significa que, se o assunto de uma conversa, palestra ou livro não a está interessando, não adianta, sua atenção irá embora rapidamente, conta.

A hiperatividade também fez dela uma pessoa inquieta. atuou como professora, mas sentia que não se adaptava a rotina.

Veio então a ideia de empreender no mercado editorial em 2010. Ela passou a fazer cursos para aprender a administrar empresas.
Uma pessoa com quem ela pensava em fazer sociedade lhe deu uma dica: editoras já haviam muitas, mas aulas em vídeo era um segmento que poderia ir muito bem.

A Já Entendi começou suas atividades em 2012, fazendo conteúdos para estudantes que iriam fazer a prova do Enem.

Na companhia, Mariotto usa o que aprendeu enquanto descobria os melhores métodos para ela própria estudar.
Conta que, nas aulas produzidas pela empresa e gravadas em estúdio da companhia em Curitiba, combina técnicas como storytelling (uso de histórias para facilitar o aprendizado), mapas mentais, programação neurolinguística e aproximações didáticas.

MUDANÇA DE RUMO

Mariotto conta que, em seus primeiros anos,  a plataforma recebia elogios, mas não clientes.

“Para vender bastante na internet, é preciso de muito dinheiro para investir em marketing”, avalia.

Percebendo que o mercado era competitivo, Mariotto decidiu então mudar o público da companhia. e ppassar a preparar material para empresas, tendo como objetivo oferecer conteúdo para trabalhadores da base da pirâmide, área em que ela acreditava poder contribuir melhor a partir de sua experiência pessoal.

“Minha dificuldade e a deles não são iguais, mas podemos dizer que o déficit de atenção e o de educação são paralelos, com desafios para o aprendizado”, diz.

Em 2014, quando foi feita a mudança de rumo, o faturamento da empresa deslanchou e cresceu 50 vezes, conta.

Naquele ano, a companhia também recebeu seu primeiro investimento, de R$ 300 mil e passou pela aceleradora de negócios norte-americana 500 Startups.

Atualmente a Já Entendi fornece conteúdo para 16 empresas, desenvolvendo cursos para funcionários dessas companhias. Entre as que já usaram o serviço estão Walmart, Natura e Bematech. Marioto diz que 1,5 milhão de pessoas já assistiram conteúdo produzido por sua empresa.

A empreendedora prevê que a companhia irá faturar R$ 3 milhões em 2016.

 

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