Brasileiro vai ao Vaticano apresentar iniciativas para fortalecer projetos sociais

Filipe Oliveira

Depois de construir com o irmão uma rede de clínicas odontológicas, O empreendedor pernambucano Fábio Silva, 39, deixou para trás sua carreira de empresário e passou a se dedicar ao fomento do trabalho voluntário e da profissionalização das ONGs.

A vocação para o empreendedorismo social foi descoberta durante mestrado em teologia e posta em prática pela primeira vez após enchente que provocou tragédias no Recife, em 2010.

Seus projetos conquistaram apoio de governos e empresas e já chamou a atenção do Departamento de Estado dos EUA e do Vaticano.

Entre suas iniciativas estão o desenvolvimento de um portal na internet, o Transforma, que faz a conexão entre quem quer ser voluntário, mas não sabe que trabalho oferecer nem para quem, com ONGs que precisam de ajuda.

O empreendedor social Fábio Silva, 39, criador do Transforma e do Porto Social (Isly Viana/divulgação)

O projeto, lançado há dois anos no Recife, em parceria com a prefeitura da cidade, acumula 85 mil voluntários cadastrados e 420 ONGs beneficiadas.

O serviço está aberto aos mais diferentes tipos de trabalho, de acordo com a habilidade que o voluntário possui. A ajuda pode ser desde consultoria jurídica ou apoio médico até trabalho em reformas,conta Silva.

“Não é fácil se engajar, exercer sua cidadania. Os canais para fazer isso no Brasil não são claros, nem sempre o interessado sabe onde procurar.”

Em expansão, o serviço também funciona nas cidades de Campinas (SP), Petrópolis (RJ), Cuiabá (MT), Salvador (BA) e Campina Grande (PB). Quarenta profissionais trabalham na empresa.

Outra iniciativa de Silva é o Porto Social, que transporta para o mundo das ONGs o modelo de aceleração de empresas, comum no ambiente de start-ups.

Lançada em 2016 e bancada a partir de patrocínios, a iniciativa apoia 50 instituições oferecendo espaço para trabalho e consultorias. A organização pretende levar conhecimentos e práticas do mundo empresarial para o cotidiano dessas instituições, incentivando-as a adotar planejamento e metas.

As mudanças passam inclusive pelo vocabulário usado por elas.

“Quem atua em ONGs está acostumado a falar mais em ações e menos em trabalho. Queremos ajudar toda essa turma a cuidar da parte jurídica, contábil, captação de recursos, planejamento estratégico, com,unicação.”

NOVA CARREIRA

A transformação na carreira de Silva começou a se desenhar em 2009, quando ele, que é protestante, era aluno de um curso de mestrado em teologia na cidade de Sorocaba (SP).

Em sua dissertação, escreveu sobre movimentos da sociedade civil e desenhou ali o embrião do que seria o primeiro projeto] de sua carreira na área social,  o Novo Jeito, uma organização que, como ele faz ainda hoje, conectaria quem precisava de ajuda com quem pudesse ajudar.

A ideia começou a ser colocada em prática quando fortes chuvas causaram destruição nas cidades de Barreiras e Palmares, no Recife, em 2010.

Silva conta que um grupo de estudo bíblico que se reunia em sua casa decidiu ajudar. Descobriram que o item mais necessário para os afetados pela tragédia eram colchões e começaram um programa de arrecadação de fundos usando todas as ferramentas a disposição, do boca a boca a listas de e-mails pela internet.

“De modo bem informal, concentrando o dinheiro na poupança de um amigo, arrecadamos R$ 100 mil, que viraram sete caminhões carregados de colchões”, conta.

O grupo foi se fortalecendo e as ações se diversificando. Silva. conta que o Novo Jeito promovia doação de cadeira de rodas, apoio a creches, construção de poços, buscava arquitetos para reformar hospitais.

Ele diz que levava a carreira anterior em paralelo a sua ONG, mas, aos poucos, foi se sentindo mais ativista do que empresário:

A dedicação integral ao empreendedorismo social veio após Silva receber convite do Departamento de Estado dos EUA para participar de programa para empoderamento de líderes sociais, em 2013.

Lá, ele teve contato com fundos, ativistas e ONGs e percebeu as possibilidades de parcerias que poderiam ser firmadas com governos e empresas. Dali em diante deixou as atividades empresariais, que passaram a ser tocadas apenas por seu irmão, dentista e sócio no negócio.

Silva afirma que a mudança foi mais difícil para familiares e amigos do que para ele próprio.

“Meus amigos achavam que não poderíamos tomar mais vinho juntos, que eue stava louco. Mas pensei, para que eu preciso de tanta coisa?”

PAPA

A recente aproximação de Silva com o Vaticano foi resultado da busca do empreendedor por mais voluntários.

“Procurei a arquidiocese de Recife e Olinda por ver que haviam 128 igrejas nesse raio. Todo domingo, eles distribuem quase 100 mil boletins. Sugeri que houvesse ali uma divulgação de oportunidades trabalho voluntário no Recife.”

Em uma reunião entre Silva e líderes da igreja na região, um dos presentes sugeriu que a ideia deveria ser encaminhada a projeto ao papa Francisco, que estava montando grupo de pacificadores e  empreendedores sociais.

“Ele disse que meu nome seria muito forte. Não imaginava que isso pudesse acontecer, dei uma risada. Mas ele falou para mandar um material em inglês que eles enviariam para o vaticano.”

Para sua surpresa, em meados de fevereiro, Silva recebeu comunicado de que o papa gostaria de conhecê-lo no início de abril.

Silva afirma que, se tiver oportunidade, gostaria de pedir ao líder religioso que seguisse apoiando o voluntariado.

“Eu não acredito mais na transformação do país a partir do modelo da antiga Democracia. Ali, se acredita na mudança apenas através do voto e da cobrança. Acredito que a transformação está ligada ao nível de engajamento da sociedade.”

 

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