Empresa com muito dinheiro corre o risco de desperdiçar, diz fundador do Hotel Urbano

Filipe Oliveira

Start-up que recebe muito dinheiro de investidores corre o risco de perder a disciplina ao lidar com seus recursos.

 

A opinião é de João Ricardo Mendes, 36, presidente e cofundador do Hotel Urbano, um dos principais sites de comércio eletrônico do setor de turismo no país.

O empresário tem experiência no assunto. Entre 2011 e 2015, a companhia recebeu mais de US$ 100 milhões de fundos americanos renomados, como Insight Ventures e Tiger Global.

“Éramos novos e estávamos em situação de abundância. Com isso, não é difícil você perder a cultura de dono, de contar centavos, de olhar no detalhe as coisas.”

Junto com o dinheiro, veio o crescimento do negócio. Porém a empresa não chegava a ser lucrativa.

Mais tarde, a relação dos fundadores da empresa com investidores estremeceu e gerou imbróglio que culminou no afastamento de João Ricardo e seu irmão, José Eduardo, do dia a dia da empresa após o Insight exercer direito de compra do controle da empresa que estava previsto em contrato em 2015.

Mendes atribui o desintendimento a crise econômica, que aumentou o risco dos investidores, e a diferença na visão de futuro para a companhia. Ele e o irmão acreditavam que deveriam investir no crescimento do negócio no longo prazo, enquanto seus investidores achavam ser a hora de pensar em uma venda da empresa ou abertura de capital.

Em 2016, depois de um ano ruim para o Hotel Urbano, Mendes chegou a acordo com investidores para recomprar parte da companhia e voltar ao comando do negócio.

João Ricardo Mendes, cofundador do Hotel Urbano (divulgação)

Segundo Mendes, diferenças de objetivos de empreendedores e investidores são frequentes nesse tipo de relação:

“Empreendedor, na sua maioria, é orientado por ideal. No outro lado da mesa, quem está no mercado financeiro está orientado a ter retorno.”

O desafio para empresários é encontrar um parceiro de negócios que tenha uma visão equilibrada com a sua para que a relação dure, diz.

Mesmo com os problemas pelos quais passou, Mendes diz não descartar receber novos investimentos no futuro.

“Não é pelo fato de um namoro não ter dado certo que não se vai querer mais ninguém na vida. Ficam aprendizados para todas as partes.”

NOVA FASE

Entre os objetivos de Mendes em sua nova fase na companhia está implantar a eficiência na cultura da empresa. Existe até meta de redução de consumo de energia, diz.

A mudança permitiu que a companhia atingisse o ponto de equilíbrio (quando despesas e receitas se igualam) já no primeiro mês do retorno dos fundadores.

A companhia também informa ter registrado o melhor primeiro semestre de sua história em termos de faturamento.

Mendes discutirá questões como essa no evento Festival Cultura Empreendedora, em São Paulo, neste sábado. O empreendedor participa, junto com o irmão José Ricardo, da mesa “Quando o casamento com o investidor acaba em divórcio. E quando dá certo”.

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