Desafio de ONGs gera ideia de start-up que automatiza rotinas burocráticas

Filipe Oliveira

Depois de ter atuado como executivo em grandes empresas, Flávio Pereira, 34, decidiu partir para o empreendedorismo.

Porém o primeiro produto desenvolvido por sua companhia, a Nuveo, não agradou o mercado.

Lançado em 2015, o primeiro serviço, em linhas gerais, servia como um buscador on-line para que empresas encontrassem informações em seus arquivos.

“Achávamos que era um produto matador. Um diretor de marketing de uma empresa poderia usar o serviço para saber todos os projetos que a companhia fez relacionados a um tema”, exemplifica.

Só o mercado não achou a ideia tão boa. “Comecei a sentar com meus amigos que trabalhavam em grandes empresas, eles achavam a ideia interessante, mas não queriam comprar.”

A ideia que permitiu a transformação de uma tecnologia com pouco uso em uma empresa com clientes veio de um trabalho voluntário que Pereira fazia como consultor social para uma ONGs.

Na instituição Lar das Crianças, que atende crianças e jovens em situação de vulnerabilidade em São Paulo, entrou em contato com o processo de digitação de notas fiscais que as entidades do setor realizam para obter recursos.

As notas, que davam créditos do programa Nota Fiscal Paulista, eram doadas por consumidores. Suas informações eram digitadas uma a uma no sistema do governo do Estado por profissionais da organização —o governo lançou neste ano aplicativo para que consumidores façam a doação diretamente, o que tende a diminuir esse trabalho.

“Na ocasião, a ONG recebia 70 mil notas por mês, tinha crédito de R$ 20 mil e gastava R$ 10 mil para digitar as informações.”

Ao saber disso, Pereira levou a seus sócios na Nuveo a ideia de criar um processo mais rápido de digitalização de informações e de automatização de seu uso.

No início de 2016, Pereira chegou na organização com um escaner e um sistema capaz de ler as informações presentes na nota e usá-las para fazer as solicitações de doações automaticamente.

“Um robô pegava a imagem e tirava as informações importantes. A seguir, outro entrava no site do governo e as digitava”, explica.

DESAFIOS EMPRESARIAIS

A ONG serviu de laboratório para desenvolvimento do que seria a nova Nuveo.

Isso porque, tal como ONGs, empresas multinacionais muitas vezes lidam com grandes volumes de papel e burocracias.

Entre a implantação da tecnologia na ONG e o primeiro grande cliente, a construtora Cyrela, que usou sistema da empresa para automatizar o pagamento de IPTU de imóveis, foram seis meses, conta Pereira.

A tecnologia da empresa também vem sendo usada para leitura de documentos jurídicos e pessoais e guias de impostos. Entre seus clientes estão Bradesco, BMW e Telefónica.

Quase dois anos depois de mudar seu projeto, a companhia conta com 33 funcionários. Está abrindo escritório no Canadá e planeja unidade no México.

A empresa espera fechar o ano com faturamento de R$ 10 milhões.

Segundo Pereira, não ter insistido no projeto que o mercado demonstrou pouco interesse e, em vez disso, olhar novas necessidades das empresas permitiu o avanço de sua companhia.

“Uma empresa que só tem tecnologia, mas não tem clientes, não tem nada. É preciso sentar com eles e ouvir várias vezes que aquilo que você quer fazer não é importante, até acertar”, diz.

A empresa recebeu R$ 2 milhões  em investimentos, tanto dos sócios como de outras empresas e investidores.

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