Empresas e funcionários apostam em home office, revezamento e hospedagem com parentes durante paralisações

Filipe Oliveira

A escassez de combustível e as restrições ao transporte público levaram empresas e funcionários a apelar para hospedagem na casa de parentes, mudança de turno e trabalho à distância para que os negócios não parassem durante a última semana, de paralisações nas estradas.

Porém as dificuldades de deslocamento levaram ao cancelamento de muitas reuniões programadas para os últimos dias, segundo empreendedores.

Igor da Silva, 20, estagiário da empresa de tecnologia A² BI,  conta que viaja diariamente de São Vicente (SP) para são Paulo de caronas, usando o aplicativo BlaBlaCar para encontrar motorista que faz o mesmo caminho.

No dia 25, uma sexta-feira, ele percebeu que as opções no app minguavam, pois os motoristas estavam ficando sem combustível. Em vez de 20 opções, havia apenas 2, conta.

Para não deixar de trabalhar, ele fez as malas na segunda (28) para passar a semana na casa da irmã, que mora na capital paulista. Isso só foi possível porque sua faculdade cancelou as aulas em consequência da greve. “Caso os problemas continuem, vou precisar voltar para casa e trabalhar em ‘home office'”, diz.

A opção de trabalhar de casa foi adotada por 30% dos cerca de 250 funcionários da matriz da desenvolvedora de sistema de gestão Mega Sistemas, que fica em Itu (SP), conta o diretor da companhia José Carlos Silva Júnior.

Na terça (30), a empresa decidiu que, na sexta-feira, todos os funcionários da unidade vão trabalhar de casa. Isso porque a empresa não vinha recebendo gás de cozinha e não teria como abrir o refeitório no dia, diz Júnior.

Segundo ele, como a empresa é do ramo de tecnologia, é possível manter a maioria das atividades desse modo. Porém, como clientes passaram por dificuldades causadas pela greve, muitas reuniões e visitas para atendimento agendadas foram canceladas.
Para Eduardo LHotellier,
sócio da startup de contratação de prestadores de serviços GetNinjas, diz que a empresa é liberal em relação ao trabalho em casa, mas que sua adoção disseminada, como aconteceu na semana, terça, afeta a produtividade.

“Uma ligação é pior do que uma reunião ao vivo. Uma coisa que você leva cinco minutos para explicar quando está com a pessoa gasta 10 para explicar por email”, diz.

Na terça, cerca de um terço dos 100 funcionários da empresa trabalharam de casa.

Homero Romão Filho, diretor de tecnologia da Netfarma, de comércio eletrônico, chama as ações da empresa para manter seu funcionamento na semana de paralisações de ação de guerra.

Para permitir que parte da equipe trabalhasse de casa, a empresa passou a permitir acessos remotos ao sistema da companhia, o que não era permitido.

A empresa também organizou um revezamento na área de atendimento ao cliente, que não poderia ser mantida remotamente, dividindo os profissionais que conseguiriam chegar em turnos que não deixassem a área com poucos profissionais em nenhum momento, explica.

Valéria Mancini, 35, gestora comercial da startup Epicom, de tecnologia para o comércio eletrônico, diz ter optado pelo trabalho de casa para guardar a gasolina que ainda tinha para emergências, como uma reunião de última hora com cliente.

Como cada profissional da empresa já trabalha diariamente com seu próprio notebook, todos os arquivos e programas que era necessários para o trabalho estava disponível para ela durante o dia, diz.

“Para trabalhar, só preciso da minha internet, do meu celular e do meu espaço.”

Porém nenhum cliente quis agendar nada durante a semana: “Estão todos desmarcando tudo. Até a dentista não conseguiu ir até o consultório.”

 

Eduardo L’ Hotellier, presidente da startup GetNinjas (06.02.2014 – Fernando Pastorelli / Folhapress)