De família de pescadores, empreendedor viaja o mundo e capta investimentos para startup de saúde do trabalho
O interesse por conhecer o mundo a partir da leitura deu o impulso para que Matheus Silva, 28, nascido em Boqueirão, na Paraíba, viajasse o mundo para estudar e trabalhar e, na volta, criasse uma startup que já atraiu grandes investidores do mercado.
Filho e neto de pescadores, Silva conta que a vontade de fazer uma faculdade no exterior surgiu quando, na 6ª série (atual 7º ano) ele leu uma revista com o ranking das melhores universidades do mundo.
“Apesar de morar em cidade pequena, de 15 mil habitantes, lia muito, pegava o jornal e queria saber o que acontecia no mundo. Vi que a maioria das universidades listadas entre as melhores estavam nos Estados Unidos”, conta.
Para chegar lá, a rotina de Silva incluía acordar às 4h30 da manhã para tomar um ônibus que o levaria até a escola em que conseguiu bolsa de estudos, em Campina Grande (PB). “Ia lendo durante a maior parte das viagens”.
O aparecimento da internet, que ele acessava a partir de lan houses, foi o que permitiu se inscrever em seleções de diferentes universidades americanas. Foi aprovado, entre outras, no Politécnico de Worcester, em Massachusetts.
Para financiar os estudos, buscou uma bolsa de estudos junto à Fundação Estudar [organização criada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann. Os planos quase desmoronaram em razão da falta de infraestrutura de sua cidade natal.
“Eu estava participando do processo seletivo online. Estava no meio do teste, a internet caiu, fechou. Tive de ligar para a fundação, explicar que morava em cidade pequena, a internet era a rádio, como ainda é até hoje. Disseram que confiavam em mim e iriam me passar para a próxima etapa.”
Aprovado, ele esperou para começar o curso. Para ter mais experiências, se inscreveu em um programa que buscava voluntários para ensinar inglês na China.
Nos dois anos em que esteve no país asiático, trabalhou como analista de marketing em uma empresa de panificação e passou por um fundo de investimentos.
Terminado o período na China, estudou simultaneamente economia e engenharia química nos Estados Unidos. Foi quando conheceu outros dois bolsistas que viraram parceiros em diferentes projetos, a paulistana Deborah Alves e o carioca João Henrique Vogel. Primeiro, os três criaram juntos a Brasa (razilian Student Association) organização para apoiar jovens brasileiros estudando fora do Brasil com mentoria e conexões com empresas.
Formado, Silva foi consultor na McKinsey, uma das companhias mais tradicionais do segmento.
Decidiu empreender ao notar que, apesar de aprender muito com os projetos dali, seu envolvimento e capacidade de atuação neles eram limitados.
Chamou seus companheiros de Brasa para o acompanhar nos novos planos. João Henrique deixou emprego na Kraft Heinz em Chicago e Deborah em uma startup do Vale do Silício, conta.
A escolha por atuar com saúde veio da leitura de uma pesquisa da própria McKinsey que apontava que esse é um segmento que, ao mesmo tempo, é muito valorizado pelos brasileiros e possui um nível alto de insatisfação.
Sua startup, a Cuidas, lançada no meio do ano passado, permite que funcionários de empresas clientes agendem consultas com médicos de família no local de trabalho por um aplicativo.
Silva explica que,
quando uma empresa adota o sistema, o médico examina todos os funcionários, buscando informações sobre seu estilo de vida e trabalho que possam ajudar na prevenção de doenças.
As empresas pagam R$ 70 por mês por cada profissional que tem acesso ao aplicativo.
Silva diz que sua startup foi lançada tendo como alvo principalmente companhias que não têm condições de oferecer planos de saúde para seus funcionários. Porém, com o tempo, passou a acreditar que empresas maiores, que já oferecem planos, podem se interessar pelo serviço pela praticidade que oferece.
A startup conta com 13 funcionários e atende aos funcionários de oito empresas clientes.
Já atraiu investimento dos fundos Kaszek (dos fundadores do Mercado livre), Canary (investido por executivos de empresas como Nubank e GuiaBolso) e Innova Capital (de Jorge Paulo Lemann). O valor injetado na empresa não foi informado.
Erramos: o texto foi alterado
Versão anterior deste texto informou incorretamente que Campina Grande é a capital da Paraíba.